quarta-feira, 8 de março de 2017

ENTRE NÓS – A figura humana


Jacopo Tintoretto, Ecce Homo ou Pilatos 
apresenta Cristo à multidão, 1546-47



De 8 de fevereiro a 10 de abril no CCBB do Rio de Janeiro apresenta a exposição Entre Nós - A figura humana no acervo do MASP, o maior da América Latina.
Ao longo da História da Arte, a representação da figura humana foi um meio de demonstração de poder do Clero e da aristocracia, da adoração de deuses e santos, da mimetização do real, da transformação da sociedade e da própria arte nos séculos 19 e 20. A mostra reune mais de 100 obras do maior acervo de arte da América Latina. A exposição tem curadoria de Rodrigo Moura e Luciano Migliaccio, da equipe de curadores do MASP, e traz obras dos maiores nomes da arte mundial – Rafael, Francisco de Goya, Amadeo Modigliani, Vicent Van Gogh, Pablo Picasso, Edgard Degas – e da arte brasileira: José de Almeida Júnior, Anita Malfatti, Cândido Portinari, Lasar Segall e Victor Brecheret, entre outros tantos. 
Abrangendo um arco histórico que se inicia entre os anos 900-1200 D.C., com as peças pré-colombianas, e vai até os dias de hoje, estabelecendo um recorte cronológico e um diálogo entre as distintas formas de representação e culturas, a exposição abre com peças do acervo que reúnem as mimetizações do sagrado na arte da Europa Medieval, da África e da América pré-colombiana, compondo um diálogo entre os diferentes eixos da coleção do MASP.
O pintor e gravador espanhol Francisco Goya y Lucientes está presente com Retrato da condessa de Casa Flores (1790-1797) em diálogo com A educação faz tudo (1775-1780), do francês Jean-Honoré Fragonard. As obras, em composição com dois dos principais nomes da pintura acadêmica brasileira do século 19 – Interior com menina que lê (1876-1886), de Henrique Bernardelli, e O pintor Belmiro de Almeida (século 19), de José Ferraz de Almeida Junior – evocam o surgimento do Iluminismo europeu e a busca por um ideal civilizatório brasileiro durante o Segundo Reinado.
 A partir dos séculos 19 e 20, a mimetização do humano é o meio pelo qual se trabalham a sensibilidade da cor e da forma, explorando a experiência plástica, como na Rosa e azul - As meninas Cahen d´Anvers (1881), de Pierre-Auguste-Renoir, e O negro cipião (1866-1868), de Paul Cézanne, obra que sintetiza os aspectos da pintura moderna. Nus (1919), da pintora francesa Suzanne Valadon, tem como referência a concepção da cor puramente decorativa do pós-impressionismo e de Matisse para expressar o desejo de liberdade e comunhão com a natureza como ideal feminino. Pablo Picasso, Busto de homem (O atleta), 1909, questiona de maneira provocadora os gêneros e limites da tradição pictórica com a figura de um lutador – provavelmente publicada em jornal. Com o formato de um busto, típico da tradição heroica comemorativa, o caráter do personagem em questão é definido a partir de volumes e texturas, como nas culturas grega e africana, que serviram de influência para todos os movimentos artísticos do início do século 20. Desta época, a mostra traz, ainda, obras emblemáticas de Vincent Van Gogh, A arlesiana (1890); Paul Gauguin, Pobre pescador (1896); Pierre Bonnard, Nu feminino (1930-1933); Amadeo Modigliani, Retrato de Leopold Zborowski (1916-1919), e uma série de esculturas de Edgar Degas que mostram a evolução dos movimentos de uma bailarina - Bailarina que calça sapatilha direita (1919-1932), Bailarina descansando com as mãos nos quadris e a perna direita para a frente (1919-1932) e o feminino, como em Mulher grávida (1919-1932) e Mulher saindo da banheira (fragmento), 1919-1932. Nas obras de Carlos Prado, Varredores de rua (Os garis), 1935, Roberto Burle Marx, Fuzileiro naval (1938) e Vendedora de flores (1947), obra doada ao museu durante a SP-Arte/2015, estão narradas à realidade do povo diante das injustiças do país, assim como Candido Portinari, com São Francisco (1941) e Maria Auxiliadora da Silva, com Capoeira (1970), que narram traços da cultura popular brasileira. Nomes referenciais do movimento trazem retratos de figuras importantes do mesmo. É o caso do Retrato de Tarsila, de Anita Malfatti, e o Retrato de Assis Chateaubriand, criador do MASP, por Flávio de Carvalho. As marcas dos intensos conflitos sociais e políticos do início do século 20 estão nas obras do pintor e muralista mexicano Diego Rivera, O carregador (Las Ilusiones), 1944, e Guerra (1942), de Lasar Segall, imigrante judeu da Lituânia que se muda para o Brasil no início do século 20. Como é o caso também do pintor ítalo-alemão Ernesto de Fiori, que deixa a Alemanha fugindo da repressão nazista e se torna um nome influente do modernismo brasileiro dos anos 1930 e 1940. Do artista, a mostra apresenta a obra Duas amigas (1943). Um dos artistas mais importantes do modernismo brasileiro, o escultor de origem italiana Victor Brecheret, criador do Monumento às Bandeiras, marco das celebrações do quarto centenário da cidade de São Paulo, está representado por seu Autorretrato (1940). Artistas contemporâneas também integram a mostra, reforçando o caráter do museu em estar aberto a novas mídias, suportes e linguagens da arte. Uma sala apresenta o vídeo Nada É (2014), do artista Yuri Firmeza. Pertencente à série Ruínas, o vídeo mostra diferentes momentos da história da cidade de Alcântara, no Maranhão, e a documentação da Festa do Divino. Trabalho (2013-16), de Thiago Honório, é uma instalação que se apropria de ferramentas recebidas como presente de operários durante a reforma de um espaço no qual o artista participava de uma residência artística, transformando-as em esculturas que metaforizam o corpo dos trabalhadores.
MASP - A figura humana através dos tempos – África, Américas e Europa
Local: Centro Cultural do Banco do Brasil
Período expositivo: de 8 de fevereiro a 10 de abril
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66

O Carregador (Las Ilusiones), 1944 - Diego Rivera

Retrato do cardeal Cristoforo Madruzzo,
 1552 - Ticiano

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