Temporal
Curadoria: Adolfo Montejo Navas
No meio do TEMPORAL
Adolfo Montejo Navas
TEMPORAL é o título simbólico da nova mostra de Victor Arruda, que alude já de saída a duas circunstâncias convergentes: ao tempo climático, erigido com força, vento, perigo; e, por outro lado, de forma menos denotativa, a uma acepção do próprio tempo, a seu calendário. Portanto, ora a história, ora a biografia, ambas as potências, com suas dimensões, se coligam uma vez mais nessa poética insurgente, pois sempre estiveram em cruzamento, superposição, em tensão, por saber ler criticamente o presente cotidiano, a vida rente ao chão, e o que gravitava sob formas de poder, domínio, exploração.
Em sua pintura e desenhos (e performances e outras obras), certas perversões da falsa moral foram vislumbradas com décadas de adianto, convertendo-se em ilustrações icônicas de uma época, mas prometendo um lado futurista, uma pós-vida inaudita: uma atualidade incurável. Da mesma forma, algumas coisas que acontecem agora aparecem em suas telas mais recentes – outro litígio com sua corrosão talvez mais sublimada. TEMPORAL não deixa de ser esse diapasão duplo, aberto à comunicação de um Victor Arruda, o jovem, com o velho, utilizando uma terminologia muito cultural e pictórica (Plínio, Bruegel, Hölbein…), quase inventando um terceiro tempo (alquimia de cronos e kairós), aquele que só existe como outra margem, como ensinou Guimarães Rosa, ou talvez para demostrar que o tempo não existe tanto na arte.
Nesta mostra, existem duas vertentes principais pautadas pelo jogo do tempo (as idades) e das metamorfoses (as novas metapinturas). Dois campos semânticos alimentando esse diálogo entre Victores Arruda que não cedem em sua interconexão de motivos, gestos, configurações, ativando uma conversa tão explícita quanto submersa: um vaivém de ressonâncias entre tempos e obras (com dípticos contíguos ou novas relações desenhadas, metabolizadas), assim como uma dança de momentos diferentes dentro de uma mesma tela produz outra assemblage temporal; e, paralelamente, rivalizando em importância, produz-se uma desconstrução da pintura, aliás, cada vez mais ousada, tanto por fora como por dentro dos limites impostos tradicionalmente, estourados até seus confins: seja então pela subversão visual de seu imaginário (conteúdo interno), seja pela implosão de sua estrutura (fenomenologia externa): dando lugar a verdadeiras rupturas formais e conceituais, algo nada comum. Em suma, nestas telas de telas se vive um estágio crítico da pintura, certo lado abissal no qual se tira o tapete do chão, onde é revelador, por exemplo, o lugar transcendente e experimental que ocupam as bordas nas telas (aliás, quando Victor Arruda não esteve pintando nas margens?)
De 8 de julho até 26 de setembro
Pavimento 1 no Paço Imperial - Praça XV de novembro 48 - Centro - RJ
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